ABANCATILÊ

Blogue da Rede de Bibliotecas de São Brás de Alportel


Nasceu Józef Teodor Konrad Nalecz Korzeniowski, filho de pais poloneses, na cidade de Berdichev, na Ucrânia dominada pela Rússia czarista. Seus pais eram nacionalistas poloneses e, por causa de suas atividades políticas anti-russos, foram exilados para a remota província de Vologda, ao norte. Joseph, então com quatro anos, os acompanhou. Aos onze anos de idade, ficou órfão de pai e mãe. Seu tio materno Thaddeus Bobrowski tomou conta do sobrinho e foi seu mentor e res­ponsável durante os 25 anos seguintes. Thaddeus queria que Joseph seguisse carreira universitária, mas em 1874, quando o rapaz tinha dezasseis anos, finalmente cedeu e concordou em deixá-lo seguir seu antigo desejo de viver no mar. Joseph viajou a Marselha, onde trabalhou em navios da marinha mercante francesa até juntar-se, em 1878, a um navio britânico, como aprendiz.

Ficaria na marinha por quase vinte anos, vi­si­tando os mais variados lugares da Ásia, da África, da América e da Europa – experiência que seria definidora da literatura do autor, além de fornecer vasto material para suas histórias. Em 1886, obteve a cidadania britânica. Oito anos depois, em 1894, ele abandonou o mar e uma car­reira bem-sucedida (chegara à posição de capitão-de-longo-curso) para se dedicar à literatura. Seu primeiro livro, Almayer’s folly (A loucura de Almayer), cuja redação fora iniciada em 1889, foi publicado em 1895, quando o autor contava já 38 anos (tam­bém dessa época data o casamento de Joseph com Jessie George). O livro foi recebido com entu­sias­mo pela crítica e friamente pelo público. Levaria cerca de quinze anos para que a carreira literária de Conrad decolasse.
Ele escreveu, ao todo, dezassete romances, sendo os principais Lord Jim, de 1900, Nostromo,de 1904, The secret agent (O agente secreto), de 1907, e Under western eyes (Sob os olhos do ocidente), de 1911; sete novelas, entre as quais se destaca The heart of the darkness (O coração das trevas, L&PM POCKET), de 1902. Publicou ainda livros de en­saios (The mirror of the sea ou O espelho do mar, de 1906), de memórias (Some reminicences ou Algumas reminiscências, de 1912, e A personal record ou Um registro pessoal, de 1912) e textos sobre a própria obra (Notes on my books ou Notas sobre meus livros), de 1921. Muitas dessas peças ficcio­nais foram primeiramente publicadas em for­ma­to de folhetim em periódicos como Blackwood’s Edinburgh Magazine, seguindo uma prática comum na época.
Conrad é hoje considerado um dos grandes autores da língua inglesa – que ele aprendeu depois de adulto, apesar de ter com ela tido os primeiros contatos ainda quando criança, ao ver seu pai traduzir Shakespeare, entre outros autores.
Seus textos ficcionais têm em comum o tema do conflito do homem contra o próprio homem, dos limites da natureza humana e do con­fronto do homem frente à natureza selvagem. Seus ro­man­­ces, contos e novelas são povoados por per­­so­­na­­gens em situações extremas, iso­la­dos da so­cie­­dade, muitas vezes em crise com a própria identidade e com a condição de ser hu­ma­no. A maio­ria de suas peças ficcionais se asse­me­lham, na aparência, a histórias de aven­turas, apesar de proporem uma profunda reflexão sobre a natureza humana e a civilização. Conrad de­­clarava serem Shakespeare, Walter Scott e Flaubert alguns de seus autores favoritos.
O coração das trevas foi adaptado para o cinema por Francis Ford Coppola, em Apocalipse now, em 1979, em plena Guerra do Vietnã, com enorme sucesso de público e crítica. Conrad morreu em 1924, deixando seu último romance, Suspense, inacabado. A Coleção L&PM POCKET publicou os seus romances Coração das trevas, Flecha de ouro, Juventude e Tufão)

Dia Mundial da Poesia
O Clube de Leitura reuniu-se na Galeria de Arte - ZEM ARTE - e festejou a Poesia.
A Calçada de Carriche, de António Gedeão iniciou a tertúlia numa leitura encenada por Amélia Viana, Francisca Graça e Maria Hélder .
Poemas de Fernando Pessoa, Clarice Lispector, Sophia de Mello Breyner Andresen, Bertolt Brecht,
Constantin Cavafis, Ary dos Santos, Vinicius de Morais, Eugénio de Andrade, e Erza Pound ecoaram ao longo da noite.
O Zé Areias, a Maria Francisca, a Maria Hélder, a Maria Belchior e o Paulo Penisga surpreenderam-nos com poemas da sua autoria.
Aqui ficam algumas imagens dessa noite, por coincidência, noite de Lua Cheia!

























O Último Cabalista de Lisboa / de Richard Zimler


Opinião de Maria Hélder:

É um extraordinário romance que tem como pano de fundo os eventos verídicos de Abril de 1506.
O que surpreende nesta obra é que embora imparável de acção não é totalmente ficção e desenrola-se em torno da busca da verdade - Quem assassinou Abraão Zarco?
Esta morte não representa apenas a perda de um familiar próximo, mas o fim de uma fonte de sabedoria inestimável - A Cabala - escola filosófica judaica, que na época constituía um importante veículo de instrução (ao longo da leitura apercebemo-nos que a população judaica de Lisboa era mais instruída que a população cristã).
É interessante verificar que muitos dos lugares falados ainda hoje existem, como por exemplo, Alfama onde se situava uma das judiarias de Lisboa e a respectiva sinagoga.
Esta obra retrata a sociedade manuelina e os horrores da perseguição aos judeus.
É, também, uma denúncia dos tempos de opressão que vive o mundo de hoje.
Nesta obra Zimler previu, com acerto, que haveria uma nova guerra no Iraque só para que a popularidade do presidente norte americano aumentasse. Antes da ascensão de Bush, já denunciava que sectores absolutamente fascistas assumiam fatias cada vez maiores do poder e denúncia sinais de xenofobia e intolerância, que são constantes na vida norte americana e crescem todos os dias. Talvez por isto decidiu recriar a sua vida na cidade do Porto (Ver a obra Meia-Noite ou o Princípio do Mundo, na qual estas referências são mais precisas).
Zimler não concorda com as posições neofascistas do governo de Israel, por isso algumas das suas obras são um libelo contra a intolerância e uma chamada à união entre os povos da Europa, Ásia, África e América para a reconstrução de um mundo melhor.
As suas obras, tal como esta, focam quase sempre construção de identidades, a amizade, a traição, o efeito nefasto das instituições impostas a uma pessoa e o significado de uma vida individual. Mas todas abordam a terrível violência entre israelitas e palestinianos e a história desta região.
Esta obra foi best seller em 11 países, incluindo nos EUA, Inglaterra, Itália, Brasil e Portugal.
Na sua nova obra À Procura de Sana, diz que, em circunstâncias semelhantes à da sua personagem, "talvez pudéssemos ser todos terroristas".
*Cabala - Estudo das letras hebraicas que permite o contacto directo e profundo com as verdades do nosso mundo e com Deus.
Ciência ou Sabedoria que produz respostas para questões que para a maioria das pessoas não tem explicação.
Richard Zimler
Nasceu em Nova Iorque, em 1956.
Licenciou-se em Religião Comparada na Universidade de Duke e fez um Mestrado em Comunicação pela Universidade de Stanford.
Trabalhou como jornalista durante 8 anos e, em 1990, mudou-se para o Porto.~
Em 1994 ganhou o Prémio Fellowship
Em 1996 escreveu o seu primeiro romance "O Último Cabalista de Lisboa", faz parte do circulo Sefardita e foi traduzido em mais de 10 idiomas.
Para além de escritor é professor de Comunicação na Universidade do Porto e tradutor de autores de língua portuguesa.
Saiba mais sobre o autor e a sua obra, comentários literários em:
Opinião de Francisca Graça:
Berequias, de nome judaico, ou Pedro Zarco, seu nome de cristão novo, a que foi obrigado por imposição régia de D. Manuel I, faz neste livro o papel de relator de todos os massacres que no ano cristão de 1506 aconteceram aos judeus em Lisboa, durante a semana da Páscoa. As piras com judeus empestaram com o seu cheiro e fumo todo o Rossio, a baixa de uma cidade porca, de bairros miseráveis e repleta de padres, em especial Dominicanos, obstinados e encarniçados a dar morte a tudo o que fosse judeu.
O que o move a regressar e a investigar as causas da morte do seu tio, mentor e o último cabalista de Lisboa só pode ser explicado e passo a citar a personagem: "para se compreender a revelação que me atingira, terei que explicar as palavras hebraicas mesiras nefesh. O seu significado é certamente a disposição para o sacrifício. O poder oculto reside na tradição dos cabalistas de estarem dispostos a arriscar-se, nem que seja a uma visita aos infernos, se com isso puderem ajudar não só a aliviar o sofrimento do mundo como também a proporcionar uma reparação na Esfera Celeste".
Através da narrativa, o autor vai-nos colocando diferentes pistas e conclusões que rapidamente se alteram perante novos dados e apenas perto do final se descobre o assassino. No decurso da narrativa, a filosofia e a prática cabalista são descritas.
Deixo-vos algumas passagens que me fizeram meditar:
-" ...pois o judeu não é nunca uma criatura simples que os cristãos sempre pretenderam fazer-nos acreditar. E um hierático judeu nunca é tão falho de espírito como pretendem os nossos rabinos. Somos antes tão profundos e abertos que nos cabe na alma todo um rio de paradoxos e enigmas."
- "Deus aparece a cada um de nós sob a forma com que nós melhor O podemos apreender. Para ti, nesse momento, era uma garça. Para outro, pode surgir-lhe como uma flor ou mesmo uma brisa."
- " O tempo é como um selo a atestar a existência. E, tal como o selo, é artificial. Como o meu tio costumava dizer, o passado, o presente e o futuro são realmente versos do mesmo poema. O nosso fim é traçar a disposição da sua rima de regresso a Deus."
- "Não posso arriscar a vida dos judeus fiando-me na equidade dos Reis da Europa que já mostraram vezes sem conta que desconhecem o que seja justiça. Pois, ainda que esteja enganado, ainda que esteja a ler da esquerda para a direita, ainda que meu tio estivesse tão cansado da vigília... podereis estar certos de que os Reis cristãos não virão um dia buscar-vos, e a todos os nossos? E que traidores como Diego não os ajudarão?"

"Sou um escritor cem por cento português"


«Publicado em 1925, Mrs. Dalloway é o primeiro dos romances de Virginia Woolf que subverte a narrativa tradicional. O título inicial do livro era As Horas, uma referência ao tempo em que a acção decorre. A I Grande Guerra terminou, o calor do Verão invade Londres e Clarissa, Mrs. Dalloway, prepara-se para dar uma das suas festas. Mas quando a noite se aproxima, a chegada de Peter Walsh, o seu primeiro amor regressado da Índia, vai despertar o passado, trazendo-lhe à memória os sonhos adolescentes e a discussão que muitos anos antes a precipitou num casamento sem fulgor. De súbito, Clarissa tem consciência da força da vida em seu redor, de Peter inalterado e contudo diverso, e da sua filha Elizabeth que se está a tornar uma mulher. Virginia Woolf expõe assim diferentes modos de sentir, evocando, mais que o espírito do tempo, o espírito da própria vida no olhar de cada personagem. Mas a originalidade maior do livro vem dessa espécie de duplo de Mrs. Dalloway, Septimus Warren Smith, enlouquecendo em silêncio com o trauma da guerra e com quem Clarissa parece partilhar uma mesma consciência.»

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