ABANCATILÊ

Blogue da Rede de Bibliotecas de São Brás de Alportel


Livros

Tropeçavas nos astros desastrada
Quase não tínhamos livros em casa
E a cidade não tinha livraria
Mas os livros que em nossa vida entraram
São como a radiação de um corpo negro
Apontando p’ra a expansão do Universo
Porque a frase, o conceito, o enredo, o verso
(E, sem dúvida, sobretudo o verso)
É o que pode lançar mundos no mundo.

Tropeçavas nos astros desastrada
Sem saber que a ventura e a desventura
Dessa estrada que vai do nada ao nada
São livros e o luar contra a cultura.

Os livros são objetos transcendentes
Mas podemos amá-los do amor táctil
Que votamos aos maços de cigarro
Domá-los, cultivá-los em aquários,

Em estantes, gaiolas, em fogueiras
Ou lançá-los pra fora das janelas
(Talvez isso nos livre de lançarmo-nos)
Ou o que é muito pior por odiarmo-los
Podemos simplesmente escrever um:

Encher de vãs palavras muitas páginas
E de mais confusão as prateleiras.
Tropeçavas nos astros desastrada
Mas pra mim foste a estrela entre as estrelas.

Caetano Veloso

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12 livros sobre os quais dizemos: já li, vou ler, tenho que ler e continuam na mesa de cabeceira

- Picwick Papers de Charles Dickens

- O Homem Sem Qualidades de Musil

- Guerra e Paz de Lev Tolstói

- As Benevolentes de Jonathan Littell

- Crime e Castigo de Fiódor Dostoiévski

- A Vida e Opiniões de Tristram Shandy de Laurence Sterne

- Em Busca do Tempo Perdido de Marcel Proust

- Romance de Genji de Murasaki Shikibu

- Dom Quixote de la Mancha, Miguel de Cervantes

- Os Lusíadas de Luís de Camões

- Odisseia de Homero

- Bíblia Sagrada de A.A.V.V.


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História de uma gaivota e do gato que a ensinou a voar

Uma leitura dos “oito aos oitenta”
A aventura do gato Zorbas e da gaivota, com penas cor de prata, que ele ensinou a voar, é muito mais do que uma simples história. O leitor encontra neste “pequeno grande livro” valores como a amizade, o respeito pela diversidade, a cooperação e a superação das dificuldades. As duaspersonagens principais desta maravilhosa fábula transmitem-nos, com a sua coragem, uma mensagem de esperança. Uma narrativa com uma ternura deliciosa e comovente que faz deste livro um segredo para partilhar com os melhores amigos.
“História de uma gaivota e do gato que a ensinou a voar” é um livro da autoria do escritor chileno Luís Sepúlveda, um mestre da narrativa. Trata-se de um autor com uma sensibilidade extraordinária, com um estilo próprio e de elevado valor literário. Numa escrita clara e acessível oferece-nos uma história improvável, capaz de encantar os leitores de todas as idades. O autor constrói um enredo onde aborda ainda o grave problema ambiental das marés negras e as suas consequências, numa narrativa que conduz o leitor a uma reflexão sobre a sua responsabilidade individual e colectiva nesta e noutras questões.

AMITAF

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A solidão dos números primos


Segundo a regra matemática, os números primos apenas são divisíveis por si próprios, ou por um, nunca por um outro número. Na contínua passagem da cadência numérica até ao infinito, surgirão sempre, inesperados e sós, novos números primos, condenados a uma solidão que os encerra incompreendidamente em si mesmos. Ainda que possam experimentar diversos cálculos, não lhes é permitida a divisão com outros iguais ou semelhantes. Aproximam-se dos seus iguais, mas jamais terão a possibilidade matemática de alguma vez se tocarem. Existem pessoas que também assim o são, números primos, solitárias e encerradas numa bolha estanque, inultrapassável, invisível, que as mantém sós e as impossibilita, condenadas por uma razão matemática, que se dividam com outras, relacionando-se no silêncio da aproximação. Entregues intemporalmente a si próprias, no que as mantém e corrói, esta é uma apaixonante história que se constrói numa base matemática e nos transporta humanamente para a condenatória dimensão da solidão dos números primos.

(martin jusefus)


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Fome

Existe uma fronteira que qualquer Homem jamais deveria transpôr, aquela que impõe o seu não regresso, ou quando de lá volta ninguém.
"Fome" é um fascinante romance que numa narrativa alheia às regras da temporalidade, descreve a história de um homem que forçadamente desce ao abismo da miséria e do delírio, e percorre um trilho sinuoso e austero, vivênciando na carne e na alma a mais primária e básica sensação de desconforto do ser animal, que dissipa a racionalidade, Fome. Paradoxalmente, esta personagem impõe a si próprio um jogo de aparências e regras para com a sociedade, o que o obriga a acupular uma máscara, que esconde um rosto faminto, mas projecta uma aparência supérfula. Sem se desencontrar na totalidade de si mesmo e da sua verdadeira natureza, esta personagem ergue-se, apesar das parcas forças, nas bases da honestidade e da compaixão para com o próximo, numa constante procura do seu eu. É um livro que num retrato magistral, desvenda uma parte do imenso fundo que sustém o Ser Humano.


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O Viajante Cego

“Uma história pode parecer improvável e ser verdadeira”.

Esta afirmação caracteriza de modo sucinto a vida de um viajante, James Holman, que sozinho, cego, sem conhecimento prévio das línguas locais e com escassos recursos económicos dedicou a sua vida a palmilhar o mundo inteiro, tendo percorrido mais de 400 000 km. Para a sua época (séc. XIX) James Holman trilhou um caminho que equivale a uma ida à lua. Assim o considera o escritor Jason Roberts, que após inúmeras investigações publica a biografia daquele que ficou conhecido como o Viajante Cego. Um exemplo de coragem, de alguém que não se intimida perante os obstáculos ou extremas dificuldades e os transforma sabiamente em desafios. É a história de um homem que luta com grande determinação para atingir os seus objectivos.
O leitor encontra nesta obra um homem que ultrapassou não só a cegueira física mas também terríveis atrocidades e interferências das autoridades, quando decide realizar uma viagem de circum-navegação. Uma obra de leitura agradável, com humor e aventura que nos transporta a alguns dos locais mais recônditos do planeta pela mão de um homem com uma sensibilidade extraordinária.

Fátima Sousa




Farmacêutico de formação académica, Carlos Drummond de Andrade soube ao longo da sua vida de escritor manusear com mestria química a língua portuguesa como cronista, contista e principalmente como poeta de eleição, captando os sinais do seu tempo, nutrindo-se dos escritores modernos, mas principalmente frequentando os clássicos. Sua escrita é reduzida ao essencial, desprovida de adjectivos, que repudiava, o que lhe permite intentar a descoberta das pessoas reais e de tudo aquilo que foge às aparências, e recuperar para os seus versos o absurdo e o insólito. Chama a atenção para os humildes e para o seu interminável labor servil. Celebra o gosto de viver, o amor e a natureza, e abdica da divindade das coisas e dos seres. Mostra-se com o seu estilo contraditório sem rebuço, afectivo e implacável, lúcido e irónico, generoso e reservado.

J. P. Cruz



Sandor Márai é um escritor singular, detentor de uma capacidade ímpar de conseguir construir uma literatura que plasma nas primeiras palavras, e mantém na continuidade das sucessivas linhas que tingem as páginas dos seus livros, uma estética de elegância, charme e profundidade, na vivência, emoções e sentimentos partilhados entre as personagens. Em jogos de relações sentimentais, este escritor constrói em cada personagem uma profundidade única e individual, captando das profundezas e elevando à superfície da narrativa, as suas mais interiores emoções e os seus mais íntimos sentimentos, enquanto seres sociais e emocionais que se relacionam, sentem e sofrem...

(martin jusefus)



A Herança de Eszter

“Durante vinte anos Eszter viveu uma existência cinzenta e monótona, fechada sobre si própria, esperando a morte e sonhando com o retorno de um amor impossível. Até ao dia em que, inesperadamente, recebe um telegrama de Lajos, o único homem que amou e graças ao qual encontrou, por um breve período, sentido para a sua vida. Grande sedutor e canalha sem escrúpulos, Lajos não só traiu Eszter como destruiu a sua família, tirando-lhe tudo o que possuía. Agora, depois de uma ausência prolongada regressa, e Eszter prepara-se para o receber comovida e perturbada por sentimentos contraditórios.
Fonte: Wook



“A Sombra do Vento" é um fantástico romance que transporta o leitor na transversalidade profunda de uma fascinante história, sobre os livros e as relações humanas, desenhada em contornos de inspiração gótica. Na misteriosa e nostálgica cidade de Barcelona dos anos quarenta, o autor explora, através dessas mesmas relações entre as personagens, sentimentos fortes e profundos, como o amor, a amizade, a nobreza, o ódio e o perdão. Numa dimensão que se pode considerar mágica, sem contudo negligenciar as premissas que constroem a realidade, esta história tatua no leitor a sensação de incapacidade de definição da fronteira concreta, que estabelece o limite da importância e do amor que um Ser Humano pode nutrir pelos livros e, simultaneamente, a profunda mudança que estes podem operar na sua vivência, quando ao sequestrarem a sua atenção, resgatam a sua alma. Um livro que ensina a amar os livros.

(martin jusefus)





Retornados: um amor nunca se esquece

“Retornados: um amor nunca se esquece”, é um romance da autoria do jornalista Júlio Magalhães. Numa escrita clara e acessível o autor oferece ao leitor uma nova perspectiva daquilo que foi a descolonização portuguesa e reconhece o valor de todos aqueles portugueses que regressaram ao seu país com o carimbo de “retornados”. O autor a partir do drama vivido por milhares de famílias e das suas recordações de infância, em África, constrói um enredo onde a par do romance encontramos um relato da maior ponte aérea de que há memória em Portugal.

Fátima Sousa





Ler Manuel Teixeira Gomes é tomar contacto com um Algarve que já não existe. Daí a importância de ler qualquer texto de escritor algarvio, pois só assim ficamos a saber o que se perdeu desde então neste pedaço de país. E Teixeira Gomes não perde tempo a desenhar personagens, antes descreve um Algarve sensual, modorrento, de mulheres embiocadas, de homens com chapéus de abas largas, desconfiados e protectores da sua prole; nada inventa, pois tudo o que escreveu foi o que realmente viveu e observou no Algarve e nos países por onde viajou e residiu.



J. P. Cruz

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Classificarmos esta obra como uma autobiografia ou memórias seria demasiado redutor.

O prazer que senti ao ler foi gerado pelo jogo narrativo usado pelo autor conjugado com o olhar de um homem, fortalecido por uma vida intensa, sobre os momentos de epifania e trevas da sua vida. As memórias são os fragmentos circunscritos num tempo de encontro e desencontro com as pessoas/personagens que dão sentido à sua vida.

Contudo, estas personagens, avós, pais, familiares, companheiros de kibutz, amigos, outros escritores e vizinhos, ganham autonomia e aprisionam os capítulos. As memórias do “re-nascimento” de Israel, como pátria, desde os tempos de protectorado inglês, são apresentadas ao leitor pelos percursos sinuosos de cada uma das vidas das pessoas/personagens com diferentes estatutos sociais, origens geográficas, línguas maternas e tradições, que se deslocaram em busca da terra prometida.

Apesar desta assombrosa obra que nos faz reflectir sobre a dimensão e a profundidade da vida humana, que não se confina ao modelo do que é politicamente correcto em cada época/geração, ainda não foi este ano que Amos Oz ganhou o Nobel da Literatura.


1 comentários

  1. marialima  

    O contacto com este "Abancatilê" interpelou-me de tal modo, que não posso deixar de o elogiar muitíssimo,incluindo desde logo o nome, criativamente nosso, algarvio dos quatro costados. As propostas de leitura deixaram-me envergonhada por ainda não as ter agarrado todas. Prometo aproveitar as férias que se avizinham e colocar a leitura em dia.
    Parabéns pelo excelente trabalho!
    Vou divulgá-lo, se me permitirem, na página Moodle da turma 5ºB.
    Fernanda Lima

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