ABANCATILÊ

Blogue da Rede de Bibliotecas de São Brás de Alportel


Sándor Márai

Sándor Márai nasceu em Kassa, uma pequena cidade da Hungria, hoje Eslováquia. O pai era advogado e a mãe professora.
Ficcionista, poeta e dramaturgo é considerado um dos maiores escritores da língua húngara. Autor de mais de sessenta livros. Escreveu seu primeiro romance aos 24 anos. Alcançou grande sucesso na Hungria como romancista, poeta e cronista das subtilezas da memória, escritor e jornalista.
Em 1919, foi viver para Berlim, depois para Frankfurt e também em França num exílio voluntário, durante o regime de Horthy.Começou a trabalhar como jornalista em 1920. Em 1945, é eleito membro da Academia Húngara de Ciências. No ano de 1948 sai de Budapeste, inconformado com as ideias do regime comunista no seu país. Um liberal acima de tudo, Sándor Márai tinha a plena convicção de que jamais poderia experimentar o seu ideal de liberdade numa sociedade dominada pelo comunismo. Márai sempre escreveu em húngaro e produziu a maior parte de suas obras no período entre 1928 e 1948.
Em 1968 depois de passar um tempo em Salermo, Itália, mudou-se para San Diego onde viveu até suicidar-se em 1989, com um tiro na cabeça. O suicídio de Sándor Márai talvez possa ser compreendido se levar-se em conta todos os anos de esquecimento a que foi submetido pelo regime e pela falta de liberdade que tanto criticou a vida toda.
A proibição da sua obra na Hungria fez cair no esquecimento quem nesse momento era considerado um dos escritores mais importantes. Foi preciso esperar até à queda do regime comunista, para que este extraordinário escritor fosse redescoberto no seu país e no mundo inteiro.
Sándor Márai é da estirpe dos escritores cuja obra regista a memória e a reflexão de uma época e de um povo. Para ele, a política e as questões de classe são precedidas por indagações existenciais.
A sua obra literária já foi comparada à de Thomas Mann, um dos maiores escritores alemães do século XX e à de Gyula Krúdy, autor húngaro de obra extensa e muito querido em toda Hungria e Europa. Sándor Márai, falou das armadilhas do amor, da paixão, da vida, da dor, da decadência e da morte. Teve seu olhar sempre voltado para todas as aventuras emocionais do homem e trabalhou a língua com extremo cuidado para expressar correctamente o que desejava revelar ao mundo.
Em 1990, recebe postumamente o Prémio Kossuth.

[Adaptação da informação contida na wikipédia e portalnetliteratura]

O autor apresenta-nos novos contos para viajar. O Homem a quem chamavam Falcão, A armadilha, A gargalhada, Os cães, É doce morrer no mar, O homem sem coração e Não há fim constituem alguns exemplos. São vinte contos breves, com cenários de África e personagens anónimas que desconhecem o seu destino e «viajam» à deriva, sempre à descoberta do mundo. Todas elas são Passageiros em Trânsito.

«O meu pai dizia-me:
- A vida é uma corrida, meu filho. Quem olha para trás enquanto corre arrisca-se a tropeçar.
Eu não olho para trás. Avanço por vezes de olhos fechados, e tropeço, como os outros, e eventualmente caio, mas não olho para trás. Nunca fui pessoa de cultivar saudades. Não colecciono álbuns de fotografias, e jamais guardei pétalas secas entre as páginas de velhos livros. Sigo sempre em frente. Quando me perguntam para onde vou encolho os ombros. Rio-me:
- Adiante» - (Um Ciclista)

Sinopse
Um pequeno castelo de caça na Hungria, onde outrora se celebravam elegantes saraus e cujos salões decorados ao estilo francês se enchiam da música de Chopin, mudou radicalmente de aspecto. O esplendor de então já não existe, tudo anuncia o final de uma época. Dois homens, amigos inseparáveis na juventude, sentam-se a jantar depois de quarenta anos sem se verem. Um, passou muito tempo no Extremo Oriente, o outro, ao contrário, permaneceu na sua propriedade. Mas ambos viveram à espera deste momento, pois entre eles interpõe-se um segredo de uma força singular...

Comentários
“A acção decorre no coração do Império Austro-Húngaro, em plena viragem do século XIX para o século XX, numa altura em que a situação geopolítica da Europa Central atinge o ponto de ebulição que fará deflagrar a I Guerra Mundial.
Este período convulsivo termina com a desagregação do Império e o desaparecimento das convenções e regras que o regiam.
O romance é construído a duas velocidades e o ritmo é marcado por dois narradores.
O narrador não participante apresenta os episódios presentes – já depois da segunda grande guerra – algures na actual Eslováquia – descreve o cenário onde se movimentam as principais personagens, como se assistíssemos a um filme mudo, entrecortado por algumas cenas de diálogo, constituídas por frases lacónicas, contudo carregadas de subentendidos.
O segundo narrador é, também, a personagem principal e o discurso, simultaneamente introspectivo e retrospectivo, está intensamente povoado de detalhes, quer no que se refere aos espaços exteriores e interiores, quer às emoções que o ambiente despoleta não só no seu íntimo mas também nas atitudes das restantes personagens.O principal objectivo deste segundo narrador é descodificar os motivos que levaram a determinados comportamentos, aparentemente inexplicáveis, por parte daqueles que lhes eram mais próximos
A forma como Konrád – o amigo –, Krizstina – a esposa –, a mãe do general – e o protagonista – encontravam na música o refúgio ideal para as suas paixões, para a sua rebeldia, é o signo da fatalidade que marca o ritmo do romance. Porque a música era o lugar secreto que lhes permitia serem aquilo que lhes era interdito pela sociedade.
Uma quarta personagem principal é Nini, a ama do general. Esta é o oposto dos dois outros grandes rebeldes – Konrád e Krizstina. Nini é alguém que se enquadra perfeitamente naquele mundo em vias de extinção que é o Império Austro-Húngaro. É a alma gémea do general no que respeita à forma de exprimir os afectos. E mais: Nini é a alma do palácio, a guardiã do lar, aquela que mantém aceso o fogo de Vesta, sem o qual as salas do palácio ficam como que transformadas em túmulos.
A evolução da trama remete-nos para Freud e para a teoria do recalcamento; a caracterização das personagens para o modelo dos arquétipos de Jung; o tema da rebelião e da traição colocam-nos perante uma intertextualidade com o Génesis da Bíblia na pessoa de Konrad / Lúcifer e Kizstina / Eva As velas ardem até ao fim para além de ser um verdadeiro tratado de psicanálise é, também, uma importante obra de reflexão sociológica. Ao tratar a situação na Europa da primeira metade do século XX, o papel do colonialismo na transformação das mentalidades – através das trocas culturais – e, principalmente, a dissertação antropológica acerca das causas residuais que estão na génese da situação no Médio Oriente, transformam-no numa obra de uma actualidade, pela acuidade das suas análises e poder visionário.Um livro fora de série de um autor que nos chega do leste europeu e cuja obra só foi devidamente reconhecida após a queda do regime comunista. Ironicamente, Sándor Márai suicidou-se poucos meses antes da queda do Muro de Berlim.”


Adaptação do texto de Cláudia de Sousa Dias
in http:\\ hasempreumlivro.blogspot.com

Um outro aspecto central da narrativa, menos tocante mas não menos interessante, encontra-se no paralelo que é traçado entre a decadência do Império Austro-Húngaro e o percurso trágico das três personagens, que representam metonimicamente aquela nação. A pátria prestes a desabar assiste à perda de influência da nobreza e do exército, ao carácter obsoleto dos valores da nobreza (hierarquia, honra, patriotismo, etc.), num mundo em mudança (início do séc. XX), à emancipação da mulher – questões subterrâneas mas marcantes na relação das três personagens. Sendo homens do seu tempo, Henrik e Konrad não conseguem sobreviver ao colapso desse mundo. Por isso, quando se reencontram, em 1941, são já dois anacronismos, dois simulacros (para usar o termo de Baudrillard) num mundo que está numa nova transição – note-se que a Grande Guerra que então se trava nunca irrompe na conversa dos dois antigos soldados. Para além de estarem interiormente mortos também o estão ontologicamente, porque a realidade em que vivem deixou há muito de ser a sua.

In: http://pt.shvoong.com/books/

Ver Também:
Biografia de Sándor Márai

Da Arábia ao Al Andaluz
Renato Edmundo Proença dos Santos
Associação de Defesa do Ambiente e do Património Cultural de São Brás de Alportel, 2008

O livro nasce da reunião de um ciclo de “Conversas sobre os Árabes” que decorreu no Museu Etnográfico do Trajo Algarvio, em São Brás de Alportel, ao longo de 2006.
A história dos Árabes e da Civilização Islâmica são narradas por Boabdil, último rei de Granada, em 1492.
Na primeira parte, o autor faz uma digressão no tempo para explicar o surgimento dos reinos árabes e da formação da civilização islâmica; contextualiza a criação do território Al Andaluz sob domínio árabe e a constituição do Califado de Córdova e do Gharb.
Na segunda parte são detalhados alguns dos protagonistas e dos factos apresentados, como por exemplo, os templários, os moçárabes e as cruzadas.


“Lentamente, Boabdil, pois era assim que os cristãos lhe chamavam, apoiou as mãos no parapeito ameado da muralha, encostando-se nostalgicamente ao alto merlão que ficava sobre o seu lado direito. Acabara de ajustar os últimos pormenores da rendição com os seus conselheiros. A História o julgaria! Talvez lhe viessem a chamar “Boabdil, o cobarde” porque, sem dar batalha, iria entregar a sua querida Granada…”

Diário do Envelhecimento
Maria Olímpia Mendes
Faro: Tipografia União, 2009

Maria Olímpia Mendes começou a publicar aos setenta anos.
O seu primeiro título – “Entre o azul do mar e o verde dos arrozais” -, já lido e discutido no Clube de Leitura, traz a público um manancial de vivências que foram sendo maturadas ao longo dos anos.
Ambos os títulos são a reunião de breves crónicas ou apontamentos que tecem, a partir de uma ideia ou uma imagem, sentimentos e reflexões. Numa prosa poética e num estilo de comunicação directo e simples, Maria Olímpia envolve o leitor que se deixa conduzir para lá da leveza do texto à profunda, imensa e caótica dimensão que é a vida escondida nas palavras.
Natural de Aljezur, após o casamento inicia a sua diáspora acompanhando o marido por Portugal e em Moçambique. As terras e as gentes foram vivamente guardadas na sua memória e esperaram que terminassem os anos de quotidiano apressado para agora jorrarem, reflectidas, em textos que buscam o encontro entre o vivido e o sentido.


“Em certos dias, vou ajeitando a velhice ao corpo como quem coloca um xaile sobre os ombros. Enrolo-me nela e tiro partido do seu aconchego ou sofro com a sua rudeza que me traz mal-estar físico e moral.
Depois, tal como faria ao xaile quando não é necessário, dobro-a e guardo-a numa gaveta até sentir de novo que o verão vai longe e o bom senso me grita que as ilusões são como os remédios – devem ser tomadas com conta e medida…”

De família brasileira e portuguesa, nascido em 1960, na cidade de Huambo, Angola, José Eduardo Agualusa adquiriu as suas referências culturais um amplo senso de identidade, o qual o leva a definir-se como afro-luso-brasileiro. Dividindo-se entre os três continentes, o angolano, que é jornalista e estudou Agronomia e Silvicultura em Lisboa, imprime na sua obra o destaque à relação cultural entre os países de língua portuguesa, através da fusão das influências de cada um. Desde o seu primeiro trabalho como escritor, ainda no final dos anos 80, o interesse em sublinhar essa integração levou Agualusa, considerado um dos mais importantes escritores africanos dos últimos tempos, a escrever obras como: Nação Crioula (1998); Um Estranho em Goa (2000); Manual Prático de Levitação (2005); O ano em que Zumbi tomou o Rio (2002) e O Vendedor de Passados (2004)..

Ver mais >> Colabora com o jornal Público desde a sua fundação; na revista de domingo desse diário (Pública) assina uma crónica quinzenal. Realiza o programa A Hora das Cigarras, sobre música e poesia africana, difundido aos domingos, na Antena 1 e RDP África. Assina uma crónica mensal na revista Pais e Filhos.

É membro da União dos Escritores Angolanos.

Em 2006 lançou, juntamente com Conceição Lopes e Fatima Otero, a editora brasileira Língua Geral, dedicada exclusivamente a autores de língua portuguesa.

Beneficiou de três bolsas de criação literária: a primeira, concedida pelo Centro Nacional de Cultura em 1997 para escrever Nação Crioula; a segunda em 2000, concedida pela Fundação Oriente, que lhe permitiu visitar Goa durante 3 meses e na sequência da qual escreveu "Um estranho em Goa"; a terceira em 2001, concedida pela instituição alemã “Deutscher Akademischer Austausch Dienst”. Graças a esta bolsa viveu um ano em Berlim, e foi lá que escreveu "O ano em que Zumbi tomou o Rio".

O seu primeiro romance - A Conjura - recebeu o Prémio de Revelação Sonangol.

Com Nação Crioula foi distinguido com o Grande Prémio de Literatura da RTP.

Fronteiras Perdidas obteve o Grande Prémio de Conto da Associação Portuguesa de Escritores.

Estranhões e Bizarrocos obteve o Grande Prémio Gulbenkian de Literatura para crianças, em 2002.

Agualusa recebeu, em 2007, o prestigioso Prémio Independente de Ficção Estrangeira, promovido pelo diário britânico "The Independent" em colaboração com o Conselho das Artes do Reino Unido, pelo livro O Vendedor de Passados, tornando-se o primeiro escritor africano a receber tal distinção

Obras publicadas

  • A Conjura (romance, 1989)
  • D. Nicolau Água-Rosada e outras estórias verdadeiras e inverosímeis (contos, 1990)
  • O coração dos bosques (poesia, 1991)
  • A feira dos assombrados (novela, 1992)
  • Estação das Chuvas (romance, 1996)
  • Nação Crioula (romance, 1997, no qual aparece o personagem de Fradique Mendes)
  • Fronteiras Perdidas, contos para viajar (contos, 1999)
  • Um estranho em Goa (romance, 2000)
  • Estranhões e Bizarrocos (literatura infantil, 2000)
  • A Substância do Amor e Outras Crónicas (crônicas, 2000)
  • O Homem que Parecia um Domingo (contos, 2002)
  • Catálogo de Sombras (contos, 2003)
  • O Ano em que Zumbi Tomou o Rio (romance, 2003)
  • O Vendedor de Passados (romance, 2004)
  • Manual Prático de Levitação (contos, 2005)
  • As Mulheres de Meu Pai (romance, 2007)
  • Na rota das especiarias (guia, 2008)
  • Barroco tropical (romance, 2009)

CLUBE DE LEITURA
Leituras de 2009/10

Ver Também:

"As velas ardem até ao fim" / Sándor Márai

"Da Arábia ao Al Andaluz" / Renato Edmundo Proença dos Santos

"Diário do Envelhecimento" / Maria Olímpia Mendes

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